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Publicado na Terça, 18 de março de 2014, 12h46
Depois da bolha imobiliária, brasileiros garimpam oportunidades nos EUA

ORLANDO, FL - A crise de 2008 mudou os rumos da economia norte-americana e levou os preços dos imóveis do país ao nível mais baixo de sua história. No auge do fenômeno, que ficou conhecido como uma bolha imobiliária, um imóvel que até então custava US$ 900 mil, era vendido a US$ 90 mil, abrindo margem para os investidores mais agressivos ganharem dinheiro com a aquisição.

Agora, os preços já começaram a se estabilizar e cerca de 50% deste valor foi recuperado. Contudo, a expectativa é que se valorize ainda mais, atingindo crescimento de 30% nos próximos anos, o que ainda abre espaço para brasileiros enxergarem nos imóveis norte-americanos uma possibilidade de alocar seus recursos, apesar de o câmbio não se mostrar favorável para estas negociações.

Em complemento a isso, no Brasil, os imóveis passaram nos últimos anos por uma supervalorização, e apesar da possível existência ou não de uma bolha imobiliária no País dividir a opinião de especialistas, não deixa de preocupar o investidor atraído pelo setor imobiliário. Hoje, adquirir um imóvel de luxo em regiões nobres no Brasil pode custar milhões aos investidores.

Para efeito comparativo, Fabio Cardoso, diretor-comercial da CND Holiday Home - empresa que atua com venda e locação de imóveis em Orlando, na Florida, calcula que uma casa de quatro suítes, com 471 m² em um condomínio fechado no Guarujá, litoral de São Paulo, custa em média R$ 5 milhões, o que equivale a aproximadamente US$ 2 milhões. Uma casa de quatro suítes e de 261 m² no Magic Village - condomínio que está sendo construído em Orlando por uma empresa de brasileiros e focada no público brasileiro -  é negociado a um valor médio de US$ 400 mil (R$ 940 mil). Ou seja, o imóvel nos Estados Unidos custa um quarto do valor da casa no Brasil.

A facilidade para a obtenção do crédito e o custo do financiamento inferior ao encontrado no Brasil, entre 4% e 5% ano, com uma entrada de aproximadamente 25% a 30% do valor do imóvel, também chamam a atenção dos brasileiros. Além disso, as agências estão cada vez mais se especializando em atender o público brasileiro, disponibilizando profissionais que falam português para intermediar as negociações e que administram os imóveis após a aquisição.

Em busca de rentabilidade
O diretor da empresa de Porto Alegre, Cim Consultoria Imobiliária, Guilherme Bastos Heitmann, afirma que a Florida tem sido um dos locais mais procurado por seus clientes, o levando a expandir a sua área de atuação para imóveis na região. "Miami é um lugar que o mundo inteiro compra. Se há crise no aqui, por exemplo, certamente haverá um país comprador. Logo, os imóveis, desde que adquiridos a preços justos e que estejam em boa localização e condição, certamente terão liquidez para o brasileiro eventualmente vendê-lo", afirma. Agora, a agência já estuda expandir os seus negócios para Orlando. "Assim como Miami, é um destino que atrai o mundo inteiro", afirma.

A visibilidade do brasileiro por essas duas regiões tem se refletido nos números. O Brasil ocupa a terceira posição entre os estrangeiros que mais compraram imóveis no ano de 2013, respondendo por 7% da venda de imóveis negociados Flórida, ficando atrás apenas do Canadá (30%) e Venezuela (8%). De acordo com dados divulgados pela NAR (National Association of Realtor), Miami Beach (Miami), Kissimmee (Orlando) e Fort Lauderdale são as regiões mais procuradas por brasileiros, que pagam em média US$ 458 mil por imóveis no país, correspondente a R$ 1,07 mil.

As regiões de maior interesse dos brasileiros são justamente onde são permitidas locações de imóveis para temporadas, o que oferece a possibilidade de rentabilidade com o aluguel do imóvel para curtos períodos.

Dependendo da localização, tamanho e infraestrutura, o proprietário consegue uma rentabilidade anual em torno de 10%, o que permite arcar com os custos fixos do imóvel com água, luz, internet, telefone e administração, que ficam em torno de US$ 800 a R$ 1.200. Vale mencionar, no entanto, que se o investidor pretende disponibilizar o imóvel para locação, precisa ficar atento às regiões onde a prática é permitida. Algumas regiões não permitem locação para curta temporada. 

Claudia d'Orey trabalha na venda e locação de imóveis residenciais e comerciais em Miami, pela AG Real Estate Advisors. Ela conta que em média a locação de um apartamento de dois quartos em South Beach, bem próximo a praia, fica em torno dos US$ 300 por noite. Em Miami Beach, é possível alugar um quarto com um valor entre US$ 125 e US$ 150, dependendo do prédio. Já os prédios em frente à praia podem custar, dependendo da temporada, no Trump Towers, por exemplo, a pelo menos R$ 15 mil mensais. 

Em Orlando, entre as opções mais em conta, o Condomínio Lucaya Village, localizado próximo à Disney, oferece casas com 124 m² e 153 m² de área útil, de três ou quatro dormitórios. As casas são locadas com diárias a partir de US$ 150. 

Quais os riscos
Fábio Gallo, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP), chama a atenção para alguns pontos importantes que devem ser considerados ao optar por imóveis no exterior. O primeiro deles é sempre ter o raciocínio do que significa investir para ter rentabilidade efetiva em um imóvel diretamente, uma alternativa que requer um recurso elevado e que apresenta riscos altos.

Ele explica que apesar de as regiões apresentaram um taxa de ocupação em torno de 60% ao ano, caso não consiga a rentabilidade esperada, o investidor terá de arcar com custos fixos com água, luz, telefone e internet e administração em torno de US$ 10 mil ao ano.

"Na aquisição de um imóvel existe o risco de vacância, de inadimplência, gastos com manutenção do imóvel, o próprio risco de mercado, o preço, e de liquidez, que é a disponibilidade de transformar esse investimento em caso de necessidade. Esses são os riscos de investir em imóveis no Brasil na França e em Miami, em qualquer lugar", afirma.

Além disso, o investidor precisa ficar atento ao risco cambial, evitando comprar em um momento favorável sem estar certo de que não precisará vender. "Imóveis são investimentos de longo prazo e essa característica precisa estar bem clara no momento de aquisição", afirma.

O professor não descarta ainda que apesar de Miami e Orlando serem hoje locais atrativos para o turista brasileiro, não há como prever o futuro. "Não tenho nenhum sinal de imediato que seja negativo para esse mercado, pelo contrário, mas é uma hipótese que não pode ser descartada. Por isso, a compra de um imóvel no exterior não deve ser o seu investimento e sim um investimento em sua carteira", aconselha.

Perfil do comprador brasileiro de imóveis na Flórida

  • 97% dos imóveis vendidos para brasileiros estão localizados em condomínios, apartamentos e casas unifamiliares; cerca de 4% são propriedades comerciais;
  • 79% dos compradores brasileiros adquiriram casas localizadas no centro, área urbana central e áreas suburbanas; 21% escolheram a compra em uma área de resort.
  • Aproximadamente metade das compras declaradas foram destinadas para férias, 26% para férias e investimentos e cerca de 11% exclusivamente para fins de locação e investimento.
  • Aproximadamente 43% dos compradores brasileiros pretendem ficar em suas propriedades entre 3 a 6 meses durante o ano;
  • Quase metade dos compradores brasileiros ficam concentrados em áreas metropolitanas, como Orlando-Kissimmee, Miami-Miami Beach e Fort Lauderdale;
  • Os brasileiros tendem a comprar casas com preços mais elevados. O preço médio das casas negociadas foi de US$ 300 mil, enquanto o preço médio para brasileiros foi de US$ 458 mil;
  • Aproximadamente 82% dos compradores brasileiros pagam em dinheiro.

Fonte: Profile of International Home Buyers in Florida 2013

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